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Dia de frágil recuperação

29 de junho de 2016

Após duas sessões particularmente caóticas, os mercados europeus se recuperaram ontem, mas continuam preocupados pelas consequências da saída do Reino Unido da UE, que serão analisadas esta semana em uma cúpula europeia. "O pânico fica para trás", considera Christopher Dembik, economista do Saxo Banque. 

A recuperação era geral na Europa à espera da abertura de uma cúpula europeia, da qual os investidores esperam soluções após o terremoto causado pelo Brexit da semana passada. 

A chanceler alemã Angela Merkel disse ontem que a União Europeia é "forte o suficiente" para sobreviver à saída do Reino Unido. No fechamento das praças europeias, a Bolsa de Paris subiu 2,61%, a de Frankfurt, 1,93% e a de Londres 2,64%. Madri também fechou em alta (+ 2,48%), assim como Milão (+3,30%). 

O impulso europeu repercutiu em Wall Street, que fechou em alta: o índice Dow Jones subiu 1,57% e o Nasdaq 2,12%. Além disso, as principais vítimas do Brexit os bancos e a libra esterlina se recuperaram um pouco nesta terça-feira. Às 21h GMT (18h em Brasília), a moeda britânica subiu 0,8% em relação ao dólar, a US$ 1,334. 

"Ontem, os mercados se concentraram nas ações e nos setores supostamente mais sensíveis às consequências do Brexit. Os bancos, as seguradoras, as companhias aéreas e os setores mais cíclicos foram os grandes perdedores da sessão", destacam os analistas da Aurel BGC. Contudo, a atual recuperação se anuncia frágil. 

"Os mercados vão continuar depois da cúpula de chefes de Estado, em especial as declarações de uns e outros, mas a visibilidade não vai melhorar a curto prazo", acrescentam especialistas da Aurel BGC. 

"As incertezas que rondam o futuro político e econômico do Reino Unido, com a degradação da nota soberana do país e os riscos de contágio ao resto do mundo continuam centrando a atenção", opinam por seu lado os economistas do Crédit Mutuel CIC. 

Nesse contexto, o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, pediu ontem ao governo britânico "clarificar o quanto antes" a situação depois do Brexit, afirmando que a UE não pode ter "uma incerteza prolongada". 

O parlamento europeu adotou ontem, em sessão extraordinária, uma resolução, não vinculante, onde insta o Reino Unido a invocar "imediatamente" o artigo 50 dos tratados europeus para iniciar o processo de ruptura com a UE. Essa incerteza reinante estimula a atração para os valores refúgio, como o ouro ou os títulos a dez anos da Alemanha. 

Apesar da recuperação e da volta à estabilidade registradas ontem, "é evidente que a volatilidade continuará sendo muito alta durante várias semanas e que os investidores vão privilegiar os valores refúgio", constata Dembik. 

Para afastar parte da incerteza, "será necessário que os responsáveis políticos europeus revelem rapidamente, talvez no Conselho Europeu dessa semana, um plano para nortear as relações entre Reino Unido e a União Europeia". 

O primeiro¬ ministro da Grécia, Alexis Tsipras, afirmou ontem que a decisão do Reino Unido era previsível. "A Europa chegou a uma crise previsível porque existe um déficit democrático, por causa da ausência de coesão social e de solidariedade", afirmou. Ele disse esperar "que o resultado do plebiscito britânico funcione como um despertar para a Europa." Em um ataque direto às políticas europeias, o dirigente afirmou que existe a necessidade de "substituir a austeridade pelo crescimento, a divisão pela convergência, o desemprego por bons empregos e as negociações intermináveis a portas fechadas por transparência e democracia." 

XENOFOBIA 
O número de incidentes sobre assédio a imigrantes no Reino Unido cresceu desde a semana passada. Ontem, um grupo de homens brancos com camisas pedindo pela "repatriação de imigrantes" começou a gritar contra uma família turca a poucas quadras do Parlamento. No centro de Manchester, houve confronto em um trem onde três adolescentes começaram gritar com um homem para ele ser deportado. Em um determinado momento, um deles atirou um líquido no cidadão. 

Segundo a polícia, há casos de vandalismo e grafite com mensagens xenófobas se espalhando pelas ruas e prédios de Londres.

Fonte: Fonte: Jornal do Commercio

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