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Hora de entendimento (Editorial)

18 de abril de 2006

 

À falta de diálogo político civilizado entre governo e oposição, desde o início do exercício financeiro o País não dispõe do único instrumento de aferição de recursos e do correspondente emprego na execução das políticas públicas: o Orçamento da União. Enviado ao Congresso no final de agosto, ali permanece em hibernação por causa de conflito de interesses empurrado adiante pela desídia e a radicalização. Salvo em 1994, quando a introdução do Plano Real desatou efeitos complexos, jamais na vigência da Constituição de 1988 a proposta orçamentária chegou ao mês de abril sem deliberação do Poder Legislativo.

  Ultrapassadas as disputas pela distribuição das rubricas de natureza política, não raro para atender clientelismos que a desnaturam, a lei de meios resvalou para impasse até agora não resolvido. De um lado, o Executivo federal calculou em R$ 3,4 bilhões

os repasses aos estados para ressarci-los da isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre exportações, em atenção à Lei Kandir. De outro, inconformados, os governadores

dizem que a conta vai R$ 1,8 bilhão além, ou seja, a soma dos encargos da União seria de R$ 5,2 bilhões. É a importância que lhes foi transferida em 2005.

  Por meio de acordo – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a impugná-lo, para recuar logo depois – estabeleceu-se que o governo acrescentaria R$ 500 milhões aos R$ 3,4 bilhões já escriturados. O Congresso, contudo, deixou de votar o Orçamento terça-feira, conforme estava previsto no entendimento. Agora, aprofunda-se o confronto do governo com os partidos oposicionistas. Porque a matéria não foi votada no prazo combinado, o presidente da República decidiu promover a apropriação de recursos à margem de autorização orçamentária.

  Duas medidas provisórias, a primeira já publicada no Diário Oficial, criam recursos extraordinários de R$ 26,2 bilhões destinados à cobertura de investimentos de empresas estatais, gastos da máquina administrativa e até para pagamento da viagem espacial do tenente-coronel Marcos César Pontes. As lideranças da oposição não admitem que o presidente da República substitua o Congresso, cuja função privativa e histórica é orçamentar recursos e controlar as despesas do Governo. Mas tal reação, embora correta do ponto de vista das instituições republicanas e da ordem democrática, não oferece saída para a crise.

 Que o Executivo não pode – e não deve – atropelar as prerrogativas do Congresso pelo uso de recursos ainda indisponíveis no Orçamento,

é algo indiscutível. Mas indiscutível, também, é a obrigação do Congresso de legar à nação, em prazo hábil, a peça legal que assegura o exercício da governabilidade. É exigência da consciência civilizada que oposição e governo cedam ao bom senso e cumpram o dever de munir o país, sem mais delongas, do instrumento legislativo indispensável ao regular funcionamento do complexo estatal.

Fonte: Diário de Pernambuco

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