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Famílias gastam mais do que o Governo com saúde

19 de janeiro de 2012

Rio – O sistema de saúde é universalizado, mas a realidade aponta para o
desequilíbrio. Pesquisa Contas Satélites da Saúde, realizada pelo IBGE,
revela que o brasileiro gasta 29,5% a mais do que o governo para ter
acesso a bens e serviços de saúde. Enquanto o estado tem um dispêndio de
R$ 645,27 por pessoa, o gasto per capita fica em R$ 835,65. No país,
55,4% das despesas são arcadas pelas famílias enquanto 43,6% cobertas
pela administração pública.

É a primeira vez que o IBGE calcula a despesa com saúde por pessoa, mas o
panorama não alterou em uma análise retroativa nos últimos dois anos.
Em 2008, a despesa do governo foi de R$ 566,43, enquanto a do cidadão,
R$ 758,21. Um ano antes, os gastos ainda eram desvantajosos para as
famílias: R$ 698,98, enquanto o governo R$ 502,36.

Do total consumido pelas famílias brasileiras, 8,1% corresponderam a
gastos com saúde. No bolso das famílias, pesaram mais os serviços
privados de saúde que responderam por 52,7% dos gastos. Aumentou também a
parcela do orçamento das famílias dedicado à compra de medicamentos.
Eles equivaliam a 34,63% do total das despesas, em 2008, e passaram para
35,8%, em 2009.

Situação inversa

Em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), o percentual é muito superior, com o estado respondendo por 72%
das despesas com saúde – percentual que não variou muito nos últimos 20
anos. As exceções ficaram com Chile, México e Estados Unidos.
Diferentemente do Brasil, na conta dos países da OCDE a administração
pública contabiliza também gastos com investimento (construção de
hospitais e compra de equipamentos). “Mantemos um padrão de sistema
privatizado, mas que constitucionalmente é universalizado”, afirma a
professora Ligia Bahia, do Laboratório de Economia da Saúde da UFRJ.

Para o gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Ricardo
Montes Moraes, a disparidade de gastos entre famílias e governo é
atípica. “Isso (o fato de as famílias gastarem mais que o governo) é
algo que não é comum e se deve ao fato de a saúde no Brasil ser tão
privatizada”, considera.

No ano em que a economia brasileira encolheu 0,3%, os gastos de famílias
e da administração pública com saúde como proporção do Produto Interno
Bruto (PIB) subiram. A parcela de despesas com medicamentos, exames,
consultas e os custos da administração pública com salários e serviços
subiram de 8,3% do PIB, em 2008, para 8,8% do PIB em 2009, revela
Pesquisa das Contas Satélites do IBGE.

Para explicar o aumento de gastos com saúde apesar da retração da
economia, Moraes afirma que os gastos com consumo tendem a variar menos
que a economia em geral e que o movimento é comum em países que
enfrentam recessões.

Fonte: Diário de Pernambuco

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