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Desigualdade no topo
6 de julho de 2014A obra vai contra a tese de que vivemos a era da meritocracia – de que o reconhecimento do trabalho e esforço pessoal tornam o mundo menos desigual. Ela mostra que a riqueza se acumula mais no topo, em famílias e dinastias, em um padrão de desigualdade que faz nosso futuro ser uma volta ao século 19. Nessa argumentação está a força e polêmica do economista francês Thomas Piketty, no seu complexo livro O capital no século XXI (no Brasil, da editora Intrínseca). Ele sai do senso-comum, de medir a desigualdade comparando os "abastados" e a classe trabalhadora, para uma comparação entre renda do trabalho versus juros do capital e herança. A conclusão? O real debate precisa ir direto ao topo, que se distancia mais ainda do resto do mundo sempre que a economia de todo o planeta vai bem.
Rotulado de marxista, criticado pelo Financial Times por falhas na metodologia e mais ainda por suas conclusões, o livro virou best-seller porque, por outro lado, também recebeu uma defesa de notáveis. Nobel de Economia em 2008, Paul Krugmann, em resenha para a New York Review of Books, chamou a obra de "revolução de Piketty", dado o impacto e a repercussão do trabalho.
Denso e longo, o livro provoca, concorde ou discorde o leitor. O contexto internacional também ajudou na repercussão. A obra, um trabalho de 15 anos, saiu após uma crise global gerada por falhas do capitalismo, com perdas e desemprego na Europa e Estados Unidos.
O texto é elegante. Antes de mergulhar nos dados, o francês usa filmes sobre o século 19 e romances do período, de autores como Honoré de Balzac, para tratar de sutilezas, os "contornos escondidos" da riqueza. O tema recorrente do jovem que busca subir na vida casando com a filha de uma família rica revela o quanto a desigualdade pode influenciar na trajetória pessoal de cada um.
Para Piketty, o capitalismo em si não é problema, nem algum nível de desigualdade. A agudez dela é que provoca distorções generalizadas, como a influência política desproporcional do capital e os danos à democracia.
No título e no conteúdo, o autor não esconde a relação histórica com autores como David Ricardo e Karl Marx, embora aborde os assuntos de forma crítica. Piketty vê como contradição central do capitalismo a "força fundamental da divergência", a separação entre o topo da riqueza e o resto do globo, expressa na relação entre o retorno sobre o capital versus o crescimento geral da economia. Sempre que a renda sobre o capital (a riqueza e herança, que tendem a se concentrar) é maior que o avanço geral da economia – que tende a se diluir -, a desigualdade se amplia ainda mais. E isso ocorre nos períodos de bonança econômica para todos, não nos piores momentos. Para o autor, a distribuição de educação e inovação traz avanços técnicos, não queda na desigualdade.
Auxiliado por economistas de vários países, Piketty comparou crescimento econômico, riqueza e desigualdade em um extenso período geográfico e de tempo, por exemplo, logo após a Revolução Francesa. A base foram informações fiscais e registros sobre riqueza e heranças – uma das críticas é quanto à ocorrência de sonegação e controles precários do capital, que podem distorcer os números.
O economista sustenta que, por motivos como rentabilidade alta e tributação mínima, a riqueza segue por gerações. Em 1910, o 1% mais rico detinha 60% da riqueza na França e 70% na Inglaterra. Com a crise de 1930, o famoso "crash" da Bolsa dos Estados Unidos e, em especial, as guerras mundiais, a desigualdade caiu. Mas nos anos 1980 ela voltou a subir em disparada, rumo, segundo Piketty, ao "capitalismo patrimonial", como nos romances de Balzac: a riqueza das dinastias e famílias.
As conclusões são o ponto mais polêmico. Para ele, há necessidade de "controle democrático de capital", com imposto progressivo sobre rendimentos e, acredite, até mesmo um tributo global sobre o patrimônio.
No Brasil, nomes como o do ex-ministro Mailson da Nóbrega trocam textos em grupos de discussão sobre o livro, economistas e empresários discutem o assunto, bem como nas universidades. "Uma das coisas simbólicas na obra é a quebra das ideologias de direita e esquerda. A desigualdade é sinônimo de liberdade. Só não se pode fechar os olhos para a desigualdade extrema", afirma Ana Luiza Guimarães, doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco. Ana Luiza concorda com observações como a de que produtividade e desenvolvimento não são remédios por si sós, mas recomenda cuidado quanto às conclusões, pois não se pode generalizar a mesma cura para países diferentes.
Paul Krugmann, ao resenhar o livro, diz que o mérito de Piketty é o diagnóstico da desigualdade, que resiste às críticas sobre metodologia e dados. E que, ressalta Krugmann, mudaram de vez o discurso econômico e o debate sobre riqueza e desigualdade.
Fonte: Jornal do Commercio
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